Quem somos?
Quem somos?
26 de abril de 2016
Arquimedes Estrázulas
Pires
Alhures já nos referimos à citação de Divaldo Pereira
Franco, um dos mais significativos ícones do Espiritismo, em todo o mundo,
sobre a hora do “embarque” para o Plano Espiritual ao final dos dias
programados para existirmos sobre a Terra em cada viagem aqui realizada pelo
Espírito que somos: “o que temos, nós deixamos e... o que somos, nós levamos”.
Penso que isto seja mais do que suficiente para nos tirar
da ilusão de que se somos econômica e financeiramente modestos ou carentes,
eternamente seremos assim. Ou, se somos – ou nos sentimos – econômica,
financeira e socialmente “poderosos”, também seguiremos assim, nos planos menos
densos do existir.
Vivemos em um Planeta onde a diversidade é a principal
ferramenta de apara das arestas que machucam quem nos acompanha, e de suavizar
a face do Espírito que aqui está em aprendizado; como todos estamos.
A diversidade é o caldo em que a índole do Espírito
Humano se aprimora. Pela observação de outros Reinos da Natureza, pela
comparação com outros seres do Reino Animal, pela avaliação de comportamento de
outros seres da nossa mesma espécie hominal e, evidentemente, pela reflexão
sobre as múltiplas escolhas possíveis, de sementes a plantar, estradas a
trilhar e rumos a seguir. Porque – no nível evolutivo médio, em que nos
encontramos – já somos capazes de saber muito mais sobre o livre arbítrio e
suas consequências, do que sabiam nossos ancestrais, há apenas alguns séculos.
As ideias, os conceitos e as verdades sobre a realidade
em que vivemos, podem ser modificadas sempre que nos dermos ao trabalho de
observar, comparar e avaliar situações, seres e comportamentos.
Me permito discordar de alguns filósofos que enfatizam ser o
homem um produto do meio em que vive. Somos suficientes detentores da
capacidade de tomar decisões; temos livre arbítrio. É evidente, portanto, que
somos responsáveis – únicos! - pelo que fazemos de nós mesmos e do meio em que
vivemos.
Concordar que somos produto do meio em que vivemos seria
nos qualificar como seres plenos de inutilidade e incapazes de pensar,
refletir, avaliar, decidir, fazer e, claro, ser. Somos o produto de nós mesmos.
Como dizia Aristóteles, somos aquilo que
praticamos todos os dias.
Claro está, por consequência, que o meio em que vivemos
também está sujeito ao nosso jeito de pensar, refletir, avaliar, decidir, fazer
e ser!
Em assim sendo, e em que pese a diversidade de graus de
evolução que em nosso Planeta caracteriza o Espírito encarnado, só não há
transformações – positivas ou não – em nós e no meio que nos está sujeito, se
nos dedicarmos à total indiferença em relação a tudo.
O indolente é um ser distante de tudo e de si mesmo. E
porque é sempre indiferente, pouco lhe importa o fato de que uma vez passando
inútil pela vida, outras vezes poderá ter que voltar para aprender a se animar
e fazer coisas que o tornem um ser melhor, diante de si mesmo, e mais digno da
condição de “filho de Deus”.
É com o objetivo de aprender a conhecer, saber conhecer,
demonstrar que sabemos e de compartilhar o que agora sabemos, que estamos aqui.
Ou o Grande Espírito, sentindo vontade de criar seres inteligentemente
pensantes, mas inúteis e estáticos, nos teria colocado em planetoides como o do
Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, acompanhados de, no máximo, uma
raposa.
Essa viagem, que chamamos de “evolutiva”, por mais que
exija, por mais que sacrifique, por mais que experimente e por mais que prove,
é tudo o que de melhor poderia acontecer ao Espírito Criado. Porque nos ensina
a ser como deve ser alguém que está fadado à Perfeição. É possível que em
outras das “muitas moradas da casa do Pai” o Espírito já não precise de sacrifícios,
lições e provas; mas ainda não é o nosso caso.
A Doutrina dos Espíritos ensina que um dia, através do
misericordioso processo das reencarnações sucessivas, todos seremos Anjos de
Deus. Na vida sujeita às limitações do corpo físico tudo se passa como se
estivéssemos nos deslocando - de ônibus – em viagem de estudo, de longa
duração, em conjunto com outras pessoas, como em excursão.
Os intervalos entre as reencarnações funcionariam, na
nossa metáfora, como as estações de parada para um cafezinho, uma refeição ou
um pernoite. É quando podemos nos movimentar à vontade, espichar as pernas, nos
espreguiçar, se sentirmos vontade disso, e nos mexer, fora da nem sempre
confortável imobilidade que o veículo em que viajamos nos exige, enquanto
estamos condicionados no seu interior.
Fora do corpo físico, nos intervalos reencarnatórios, o
Espírito também se movimenta, se recicla, toma um cafezinho feito de
conhecimentos novos, se refaz da “viagem de ônibus” e se prepara para
continuar, porque certamente haverá outras a viajar.
Independente do tempo que demore até a Perfeição, a
paisagem vista pela janela da vida, existência afora, também sofre a influência
da nossa capacidade de compreender e pensar.
Dois passageiros de uma mesma
viagem são incapazes de enxergar as mesmas coisas e de sentir as mesmas
emoções, enquanto apreciam o que está ao alcance dos seus olhos, por onde
seguem. Mesmo que viajando no mesmo tempo.
Evoluímos de maneira diferente, ainda que sob as mesmas
lições e as mesmas provas, porque somos individualidades universais e,
portanto, sentimos de maneira especialmente particular, as coisas que
experienciamos. Porque Deus nos haverá de querer capazes, qualificados e
habilitados ao exercício do saber, quando por merecimento houvermos sido
incorporados ao todo de que fazemos parte, e de que tudo é feito. Como
aprendemos e compreendemos, pouco importa, desde que compreendamos e
aprendamos.
Existir é muito mais do que viver; é o conjunto de vidas
sucessivas que através das reencarnações nos permite evoluir até que de novo
nos agreguemos à Fonte de tudo. Como na metáfora do “pinhão”, onde o Espírito
Ramatis justifica a afirmativa de que “somos criados à imagem e semelhança de
Deus”.
De que jeito é Deus? Qual é a sua figura? É alto? Baixo?
Magro? Gordo? Qual é a cor de Deus?
No livro “O Evangelho à Luz do Cosmo”, Capítulo 2 –
Evolução – Pag. 56, Ramatis usa uma metáfora interessante, para nos fazer
entender essa questão:
“Embora algo simplista, poderíamos explicar-vos, por
exemplo, que o “macropinheiro”, isto é, a araucária, cujos ramos buscam o alto,
forte e resistente, na sua configuração definitiva existiu inteirinho na
miniatura do pinhão, ou seja, no “micropinheiro”!
Assim que a semente de pinhão é plantada no solo, depois de certo tempo
germina, e, gradativamente, vence as adversidades do meio nos seus ajustes para
a emancipação; até atingir a configuração gigantesca decisiva do pinheiro. É
evidente que esse acontecimento ou fenômeno só se concretiza porque na
intimidade do próprio pinhão há todo um pinheiro em estado latente, e seus
atributos criativos despertam e se impõem tanto quanto faz o crescimento da
árvore.
De modo semelhante, o espírito do homem também é ajustado ao solo das
lutas cotidianas, onde deve romper a crosta da personalidade animal inferior,
desenvolver os atributos de Deus existentes em sua intimidade espiritual, até
alcançar a plenitude do anjo consciente, que é a sua Realidade Divina! Assim
como, no fundo da terra, o pinhão modifica-se de semente para originar o
pinheiro majestoso e adulto, o “homem velho”, produto dos instintos da
animalidade, também deve morrer, para em seu lugar renascer o “homem novo”,
onde predominam os sentimentos e a razão, meios para a ascensão angélica.
O espírito do homem, entretanto, desperto, cresce incessantemente
ampliando a consciência e o sentimento superior, desenvolvendo os próprios
atributos divinos, porque o Criador é o fundamento criativo e eterno de toda
individualidade humana. Assim, o espírito do homem é eterno e incorruptível,
porque foi criado da essência eterna de Deus”.
Refletindo sobre essa bela metáfora é possível assimilar
o fato de que um dia, no distante infinito do tempo cósmico e já bem
“crescidos” em sabedoria, então conheceremos, de fato, o dito de havermos sido
“criados à imagem e semelhança do Criador”. Será assim porque teremos chegado à
perfeição e então já não teremos nas lições e provas da existência, as duras
circunstâncias existenciais, como hoje as temos.
Mas as compreenderemos como
veículo, via e passagem, como diz Exupéry, em sua “Cidadela”, para chegarmos a
onde então estaremos.
E assim será, porque somos a essência do Grande Espírito
Criador, em processo de expansão através das diferentes fases da existência
eterna e infinita, que nos identifica como a porção inteligente da Criação.
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