Não importa



Não importa
07/02/2016

Arquimedes Estrázulas Pires


          Assistindo ao filme “Os Smurfs 2”, numa tarde de domingo, totalmente esquecido do carnaval que acontece lá fora, nas avenidas, nos salões,  na mente dos que sonham nada e – equivocadamente – acham que nada perdem, pulando, se esbaldando e exagerando; o carnaval que tanta tristeza traz em seu astral, que muitas vezes vicia e mata, e que tem um tom de alerta sobre os descaminhos que os excessos acabam sempre provocando,  senti arrepios ao ver Gargamel criar pequenos seres que poderiam ser Smurfs, se passassem pela mágica do “bem” e então, sob o comando do velho e sábio “Papai Smurf” – um dia dublado por Sílvio Navas - poderiam também habitar casinhas de cogumelo, nas florestas da vida e viver feliz. Mas não eram azuis, quando criados e não eram do bem, embora pudessem sê-lo, conforme os originais da história de Pierre Culliford, o belga conhecido como Peyo.

          Gargamel, como o carnaval, tem o condão de criar situações de embaraço e seres de infelicidade, se não houver um Papai Smurf, no caso de Gargamel, e se não houver a mão de Deus, no caso do carnaval.

          Associei de imediato o poder irresponsável, de Gargamel, de criar seres que poderiam ser infelizes depois, com a magia medonha, que veste ilusão e desfila uma enganadora alegria, no carnaval.

          Quantos pequenos seres, humanos por excelência, DNA e genética, nascerão da irresponsabilidade dos que se vestem de carnaval e gargamel, pra se jogar no vazio do “amanhã é outro dia e agora o que importa é me esbaldar”?   
          Esse gesto de falsa liberdade é a ilusão de agora que produzirá, certamente, problemas e tristezas logo mais.

          Os meses de outubro e novembro receberão, no Brasil e nos locais de origem de alguns dos milhares de turistas que visitam nossa terra, todos os anos nesta época, pra homenagear – no carnaval - Dionísio, na Mitologia Romana, filho de Zeus, o deus dos deuses, e ele próprio tido como o deus do vinho e do prazer material. Na velha Grécia, Baco, era o seu nome; daí o termo “bacanal”; dado à festa devassa, de orgia sem controle, e sem objetivos de nobreza, responsabilidade  e bem fazer.

          Muitas dessas vidas assim conectadas a corpos de pais que por muitas vezes nem se conhecem, antes e depois do carnaval, serão rejeitadas e haverá tentativas de aborto e... haverá abortos! Crimes contra o existir que, impedido de ser, trará tristeza aos que impedem o nascimento de crianças, mundo afora e pelas mais diversas razões.

          Muitas dessas vidas assim concebidas, terão a oportunidade de ser; mas nem todas, certamente, terão a oportunidade de existir com dignidade, porque não raro serão almas em busca de recibos e quitação de velhos débitos, que nascerão em condições e em grupos sociais seriamente comprometidos.

          Mas muitas dessas vidas, surgidas de furtivos encontros carnavalescos, ébrios, desajeitados e condenáveis, muitas vezes serão exemplos de nobreza, superação e sabedoria. E até missões de rara importância e beleza, poderão trazer e cumprir. Porque, como diz o Papai Smurf, encerrando o filme Smurfs 2.  ... 

...“Não importa de onde você tenha saído; importa quem você escolheu ser”. 

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