Mundo Novo



Mundo Novo
23/03/2016
Arquimedes Estrázulas Pires

           Eu gostaria muito de poder mudar o mundo!
          Mas não todo o mundo, todas as coisas e nem todas as pessoas, claro. E também não toda a história porque – excluindo-se o bagaço, evidentemente - ela é feita de coisas importantes para todos, cheia de ensinamentos e de pessoas dedicadas ao bem e produtoras de grandes exemplos de honradez e bondade. Por mais que não pensemos nisso, a história também está cheia de outras histórias. Ingredientes sem os quais muito do que sabemos e conhecemos não teria a menor graça ou razão de ser.
           Eu gostaria muito de poder mudar o mundo!
          Se me fosse dado realizar tal mudança eu começaria pela alteração das características intrínsecas dos sentimentos. Porque são justamente eles que fundamentam a índole de cada um de nós. Antigamente, e isso quer dizer há alguns milhares de milhões de anos, o Espírito humano era impulsionado pelo instinto e nada mais. Lutava pela sobrevivência, muitas vezes com violência e até crueldade, porque era essa a sua natureza primitivamente incipiente. Mas ainda não sabia que poderia querer, aprender e... “ser”.
Hoje é diferente! Hoje o sentimento é o grande motor do fazer, o combustível do que fazemos e o orientador do caráter de cada membro do que se convencionou chamar de... humanidade terrena.
          Nessa recaracterização eu haveria de proteger o sentimento e de lhe conceder alternativas que satisfizessem ao livre arbítrio, evidentemente, mas que não fossem genéricas. Porque não seria nada interessante que uma vez mudado, o mundo ainda permitisse descaminhos, desvios comportamentais, o desamor e a despreocupação com o objetivo maior, da nossa viagem no tempo, que é... evoluir.     
          Evidente que pela transformação permanente, como em tudo no Universo, pela vontade, pela determinação e pela consciência de ser. Mas, constantemente, evoluir.
          Muitos de nós ainda não estamos conscientes de que mesmo errando a estrada é possível voltar e recomeçar. Muitos de nós ainda acreditamos estar irremediavelmente condenados, assim que cedemos à primeira grande tentação de degenerar. É quando então degeneramos de verdade.
          A proteção que eu criaria para o sentimento seria a mais singela imaginável; eu o protegeria com a consciência, comum a todas as pessoas e sempre em sua plenitude, de que “indistintamente, somos responsáveis por tudo aquilo a que dermos causa”.
          Penso que então seríamos naturalmente vigilantes e não nos pesaria ou alteraria a maneira de ser, o fato de só nos importar fazer o que é certo, segundo os conceitos então estabelecidos para cada povo ou nação.
          É possível acreditar que no mundo assim modificado e com tais diretrizes sentimentais não houvesse lugar tão espaçoso – como hoje há - para a insensatez, a incúria, o desrespeito a pessoas, instituições, tradições, leis e ordem.   
          É bem possível acreditar também que não houvesse pessoas afeitas à falsidade de propósitos, à leviandade moral, à exploração da boa fé e da boa vontade de outrem, à ganância em geral, ao poder a qualquer preço, à crença de poder pessoal eterno e à desatenção sobre o que a cada um cabe zelar, em cada tempo.
          Podemos inferir que o Universo haveria de exultar e ficar extremamente contente com a materialização, no Planeta Terra, do que a história sacra há tanto tempo diz que somos: “criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus”.
          Efetivamente somos a porção inteligente, da Criação. Entendo que em razão disso, a cada vez que pisamos fora dos trilhos estamos colocando o Criador em franco constrangimento. Porque se O temos perfeito em tudo, bom e justo, como de fato É, como seria possível que Houvesse criado seres de sentimentos tão rudes, muitas vezes? Capazes de tão péssimos exemplos, muitas vezes? De tanta arrogância e prepotência, muitas vezes?
          Eu gostaria muito de poder mudar o mundo!
          E nesse mundo novo, que não deveria ser confundido com o admirável “Admirável Mundo Novo”, de Huxley, algumas modificações seriam destaque em todos os lugares.
          - Na política, os políticos seriam sempre bons, justos, competentes e exemplares. O erário seria usado exclusivamente para a satisfação das necessidades das pessoas que tributam e dos seus dependentes diretos ou indiretos. Em todo o mundo e de todos os governos, haveria assistência permanente, eficiente e eficaz - a toda a gente - independente do poder aquisitivo ou da condição social dos assistidos.
          - Na família, os pais seriam bem cuidadosos na construção do caráter dos filhos, os filhos seriam extremamente zelosos no trato com seus pais e os irmãos haveriam de se querer como irmãos de verdade.
          - Nos governos, os líderes seriam sempre dignos, honrados, zelosos dos seus labores, dedicados à satisfação dos seus liderados e, sempre, de conduta acima de qualquer suspeita. Produziriam só bons exemplos e seriam reverenciados e amados por todos, em todas as nações.
          - Na sociedade, as pessoas se respeitariam mutuamente e ninguém deixaria de se indignar diante da ilicitude, da sordidez, da impunidade, da mentira e do mau exemplo.
          A lei seria única para todos os povos e teria apenas dois artigos:
          Art. 1º - Na sociedade humana ninguém é obra do cara de macacão vermelho, rabo de flecha e guampas.
          Art. 2º - Porque militantes na dignidade e na honradez - e independente do que façam - todos devem fazer tudo com amor e sempre com o objetivo de dar certo e de beneficiar satisfatoriamente a aqueles a quem os seus feitos se destinam.
          Parágrafo Único: Não haverá privilégios a ninguém, sob nenhuma hipótese e, porque todos “fomos criados à imagem e semelhança do Criador”, aos que exorbitarem[1] será oferecida, compulsoriamente[2], uma temporada em combustão[3], no porão do mundo[4].
          Ideia posta, penso que todos haveríamos de gostar de viver num mundo assim. Exceto, claro, os casmurros que fazem da rotina diária uma oportunidade sempre nova para práticas ilícitas, descabidas, reprováveis e desnecessárias.
***     ***       ***



[1] Exorbitar: Exceder; ir além do considerado razoável; desviar-se de uma regra, preceito. Esquivar-se de uma norma preestabelecida; ultrapassar os limites.
[2] Compulsoriamente: Obrigatoriamente, por Lei. No caso: Porque “a cada um será dado segundo suas obras”. Com Deus não se negocia méritos ou deméritos.
[3] Em combustão: Da alquimia, transmutando, transformando, compreendendo, aperfeiçoando.

[4] Porão do Mundo: Figurado > Região Umbralina; Umbral, dimensões inferiores do Plano Espiritual; Região de “drenagem” e suavização de resíduos deletérios no Perispírito.

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