A quem muito foi dado...

Arquimedes Estrázulas Pires
Inúmeros líderes das mais diferentes correntes filosófico-religiosas, sérios, responsáveis e idôneos - cristãos ou não – têm feito referências a alguns arautos religiosos deste início de terceiro milênio, como “mercadores da fé”.
Mais vendilhões de ilusão do que ensinadores da Boa Nova, promovem a troca de valores monetários e bens materiais que colhem a mancheias, por acenos de esperança às multidões desesperadas que procuram, no espetáculo e no imediatismo inatingível da fé paga, o consolo para suas inconscientes e indesejadas colheitas. Porque a apanha será, rigorosamente, da espécie que for plantada! [Gál. 6:7]
Jesus, o Salvador, apresentado às multidões que integram parte dos cerca de 27% da população planetária tida como Sua seguidora, não pode continuar sendo tido e tratado como um serviçal plantonista, sem folga e permanentemente disponível em qualquer situação, para resolver problemas que não Lhe cabe resolver; porque não é atribuição de Jesus Cristo, resolver problemas criados pela incúria!
Já não nos deu Deus o livre-arbítrio como instrumento de medida das nossas responsabilidades? E não nos Disse Jesus, o Sublime Peregrino, que “a cada um será dado segundo suas próprias obras”?  [Mt 16:27]
Há certas coisas, geradas pelo mau uso dessa liberdade de as pessoas poderem fazer o que bem entendem que, enquanto a mensagem do Cristo pelo Seu Evangelho, não for compreendida e praticada, não se modificarão.
Que mérito há em recorrer à Providência Divina a cada dificuldade ou a cada deslize, implorando ajuda ou perdão? Considerando que as dificuldades são os instrumentos que Deus Coloca à disposição de todos pra que se tornem espiritualmente fortes, então, que a sabedoria para encontrar a melhor solução a cada problema, seja o objeto das súplicas; não os pedidos de facilitação para coisas que podem ser resolvidas pelo esforço de cada um.
Não há privilégios no mundo de Deus e, decididamente, não fomos criados para propósitos de vilania, covardia ou leviandade. Que pai ou mãe sente-se feliz vendo um filho – ou filha – de joelhos, ou rastejando, implorando clemência e mendigando soluções para problemas pequenos, de sua responsabilidade, como se isso fosse tudo o que consegue fazer por si mesmo?
Deus não é diferente; afinal de contas, É o Pai de todos e o Criador de todos os mundos! Por que haveria, então, de Querer ver Seus filhos nessa descompostura de mendicância desnecessária, recomendada por certas igrejas e líderes de um Cristianismo incompreendido, se foi para a Luz que nos Criou?
Essa Luz é o que de melhor podemos apresentar como tradução do significado maior do que chamamos de sabedoria. Costumo dizer que a sabedoria é cria do tempo; penso que é uma boa definição! Ninguém pula da ignorância à sapiência, por mágica ou privilégios; na Justiça de Deus não há desses artifícios. Em nossa jornada evolutiva nada recebemos se não por merecimento. Está nas Escrituras.
Ao fazer referência a um Cristianismo incompreendido não estou pensando em empresários famintos de dinheiro e poder, travestidos de líderes religiosos, esses mercantilistas do Evangelho, que vendem a ilusão de um falso paraíso e de um Jesus que salva, socorre e resolve tudo, em troca do que as pessoas têm nos bolsos; ou no banco. Esses sabem demasiado bem, que “a quem muito foi dado, muito será pedido” [Lc 12: 47 e 48]; esses sabem – ou deveriam saber! - que na contabilidade Divina o seu quinhão de responsabilidades é imenso e que, seguramente, responderão por seus feitos.
Também não o faço em relação aos escravos da ganância, que pagam polpudos dízimos e fazem grandes doações espontâneas, na esperança de recebê-los de volta multiplicados por centenas ou milhares de unidades monetárias; como se o que lhes chega às mãos não o fosse por merecimento, missão ou prova! Pessoas assim, que dão pensando em quanto de supérfluo poderão acrescentar ao seu patrimônio, devem imaginar – erradamente, claro – que podem “negociar” com Deus.
Há igrejas que passam aos seus frequentadores a ideia de que é possível atrelar a cobrança do dízimo à garantia de salvação da alma. Como se o amor de Deus, que Jesus coloca graciosamente à disposição da humanidade através do Evangelho, tivesse um preço. [Mt 10. 8]
Ao fazer referência a um Cristianismo incompreendido, estou pensando nos simples de coração e pobres de compreensão, usualmente induzidos ao dispêndio financeiro, emocional e religioso, por conta dessa busca quase desesperada que fazem, de consolo, solução de problemas imediatos e até... salvação; porque o conhecimento da verdade lhes tem sido sonegado. Acreditam em tudo o que ouvem e até no tilintar do poder econômico e do fausto que tem caracterizado alguns grandes templos da atualidade, nesse contexto mercantil, que de cristão tem apenas o nome.
O guizo barulhento de bens só materiais, despojados de sentimentos e razões justas, conflitam de maneira acintosa com a humildade e a pureza de sentimentos de Jesus Cristo, que veio despojado de todas as posses materiais imagináveis e durante os 33 anos em que permaneceu entre os do seu tempo só fez aconselhar a humanidade a “não acumular tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem e onde os ladrões minam e roubam; mas no céu, onde nem a traça e nem a ferrugem consomem e onde os ladrões não minam e nem roubam”, [Mateus 6: 19-21]; o Messias não poderia mesmo agir de outra maneira!
Não se trata aqui de qualquer juízo ou condenação, mas de uma constatação, triste em todos os sentidos!
Está em Mateus, 10: 8, o registro da orientação de Jesus aos discípulos que enviava à pregação do Evangelho: “Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai”.
O que Jesus fazia – e continua fazendo - no anonimato e recomendava que “a ninguém fosse contado”, hoje é objeto de ostentação em praça pública e em grandes e suntuosos templos erguidos com finalidades nem sempre ligadas à Caridade e ao Amor - a Deus e ao próximo - dois dos principais pilares da Obra do Cristo.
O Capítulo 8 do Livro de Mateus está recheado de registros dessa capacidade de curar com simplicidade, com apoio na fé e na confiança em Deus! Era assim que Jesus, o Mestre dos Mestres, curava feridas, dores e outros padecimentos do corpo e da alma das pessoas que O procuravam; não no teatro milagreiro, de apelo psicológico e objetivos econômicos, que hoje se vê.
            Sem nenhuma intenção de “pré-juízo” a sentimentos, intenções ou ações genéricas, porque é indispensável o reconhecimento de que há muita gente virtuosa falando em nome de Jesus em templos, igrejas, centros espíritas cristãos e praças públicas, essa constatação nos reponta ao alerta de que devemos estar sempre antenados.
Orai e vigiai, diz Jesus, pra que ninguém vos engane... Porque falsos cristos e falsos profetas virão em meu nome, farão prodígios e enganarão a muitos; até mesmo os eleitos, se possível for”. [Mateus 24: 5 e 24]
Até é possível que em meio a tanta representação alguém seja – efetivamente - curado, porque “a fé tem um grande poder de cura”, Deus pode curar em qualquer lugar e, se houver merecimento, a cura se dará; mas nem chega a tanto do que é mostrado e nem tudo o que é mostrado espelha a verdade que deveria bordar a história do Cristianismo em qualquer lugar do Planeta.
Nem tudo é passível de cura espiritual e nem toda a religiosidade que impregne as pessoas será capaz de fazê-lo. Porque há resíduos cármicos e produto de plantios ancestrais que precisam ser devolvidos – obrigatoriamente – à natureza, para que o espírito humano, uma vez limpo de tais agregados, possa alçar vôos mais altos em sua jornada evolutiva. As tentativas de burla a tais resgates só fazem atrasar a viagem; porque a colheita é obrigatória e mais cedo ou mais tarde terá que acontecer!
“Tudo posso naquele que me fortalece”, diz o Apóstolo Paulo em sua Carta aos Filipenses, capítulo 4, versículo 13. Mas, se reconheço em Jesus Cristo essa força e faço de conta que O tenho à minha disposição pra que Opere milagres conforme a minha vontade, pra que isso seja convertido em dinheiro e poder é, quando nada, presunção vazia e um profundo desrespeito Àquele que Veio, como Ele mesmo diz, “não pra revogar a Lei, mas para cumpri-la”. [Mateus 5: 17]
Com base nessa declaração do Mensageiro de Deus é fácil concluir que o espetáculo milagreiro contraria a essência da Lei. Ninguém recebe nada fora do tempo de seu merecimento.
 “A quem muito conhecimento sobre as Leis de Deus, foi dado, muito será pedido em relação ao que ensinar ou compartilhar. [Lc 12: 47 e 48]
               
               

Comentários

neyra disse…
Obrigada Primo amado, por mais este ensinamento.

Também fico indignada quando vejo, em nome de Jesus, tirarem o pouco que tem, os desesperados.

Acredito que aqui cabe perfeitamente a...

ORAÇÃO DA SERENIDADE
Concedei-me Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que eu não posso modificar, coragem para modificar aquelas que eu posso, e sabedoria para distinguir uma das outras.
Que assim seja.

Beijos com muito carinho
da Neyra.

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