Sobrenatural
Arquimedes Estrázulas Pires 02.05.2011
Ainda há quem interprete como coisa “sobrenatural” a capacidade que algumas pessoas têm, de ver ou ouvir espíritos e até mesmo de escrever suas mensagens.
Porém, será sempre impossível eliminar dúvidas, se não houver sinceridade na vontade de esclarecê-las. Será impossível iluminar ideias obscuras sobre coisas e fatos, se houver hipocrisia ao tratar delas, sejam elas quais forem.
Seguindo esse princípio – e pra que o raciocínio sobre o termo em consideração comece a ser desenvolvido - é indispensável a seguinte pergunta: O que é uma ocorrência “sobrenatural”?
E a única resposta possível, é: Nada é sobrenatural.
O termo tem sido amiúde empregado para designar coisas ou ocorrências julgadas como sendo contra a natureza, acima da natureza, sobre-humano ou, simplesmente, diferentes daquilo a que nos acostumamos ver e saber como coisa natural. A bem da verdade é preciso desfazer esse equívoco milenar e dizer, categoricamente, que nada - absolutamente nada! – existe, que satisfaça esse pensamento. Porque simplesmente nada existe além da Natureza! A Natureza é Tudo, é o Todo, é O que Há!
Não importa em que latitude do Universo estejamos, neste exato momento, na dimensão em que estamos ou em qualquer outra que tenha a ver com o lugar que ocupamos, tudo é – e continuará sendo, eternidade afora – absolutamente natural. A menos, claro, das coisas criadas pela espécie humana e que, por consequência, não fazem parte da Natureza.
Mas então – alguém pode questionar - fantasmas e assombrações não são seres sobrenaturais? Claro que não! Até porque, não há fantasmas ou assombrações. O que há são espíritos em condição existencial diferente daquela que agora vivemos e que, na maioria do tempo passando despercebidos aos sentidos físicos, são catalogados como coisas além da natureza. Tanto não são sobrenaturais, que nós também somos espíritos e nos vemos como a coisa mais natural do mundo! Ou não?
A única diferença - entre o que chamamos de assombrações e... nós mesmos – é que, no momento, estamos desfilando pela existência vestindo um corpo de carne e osso, enquanto elas... não! Espere até passar para o “lado de lá” e verá que todos somos rigorosamente iguais!
Há até um ditado filosófico, assim: “não imagine que as estrelas não existem, só porque o céu está nublado e você não as pode ver”. Por uma questão de “configuração” do corpo físico, nem sempre podemos ver ou ouvir o que vibra em frequência diferente da que vibramos. Os cães, por exemplo, ouvem sons em frequência que não podemos ouvir; nem por isso podemos afirmar que tais sons não existem.
Ver ou ouvir um espírito e chamar a isso de “uma coisa sobrenatural” seria o mesmo que olhar um pedaço de tijolo ao microscópio eletrônico e, ao ver que suas moléculas são junções de átomos que se movem, dizer que aquele pedaço de tijolo é uma coisa sobrenatural; porque está “se mexendo”! Nada é estático no Universo! Infelizmente, poucos param para refletir sobre o fato de que tudo está em movimento constante e em permanente transformação. Até mesmo esse conceito equivocado sobre o mundo em que vivemos, pode e deve ser transformado.
É preciso popularizar as coisas que fazem parte do dia-a-dia. Até o mais negro e frio bloco de granito é composto por moléculas feitas de átomos que se movem exatamente como se movem as estrelas no céu, os planetas em torno dos seus sóis e, por exemplo, as ondas de som e de luz. Tudo e todos movem-se exatamente como nós nos movemos.
Mas então o medo que as pessoas têm, do que ouvem falar como sendo assombrações, não tem fundamento? “A única coisa a ser temida pelo ser humano é o próprio medo.”
Muito embora haja quem veja o medo como um freio necessário em certas ocasiões de perigo, há que se considerar o fato de que, por medo, muitas coisas indispensáveis deixam de ser feitas. Oportunidades importantes são desperdiçadas, vidas deixam de ser salvas, atitudes necessárias deixam de ser tomadas, conquistas se perdem, grandes feitos deixam de existir, profissões nobres não se consolidam, verdades não são ditas e inúmeras outras coisas importantes deixam de existir, em razão do medo que povoa o imaginário da raça humana, independentemente de nacionalidade, etnia, escolaridade, religião ou condição social.
Os espíritos são seres corpóreos, como todos nós, vivendo em uma condição tal que as suas moléculas, dispostas mais distanciadas umas das outras, fazem deles seres de estrutura corporal de menor densidade, o que os torna invisíveis aos olhos do corpo muito denso em que vivemos. E, da mesma forma como podemos nos abraçar e nos tocar uns aos outros e não podemos fazer a mesma coisa quando nos relacionamos com os espíritos que nos rodeiam, eles também podem fazer tudo isso entre eles, mas não o podem quando se relacionam conosco. Porque estamos vibrando em frequências diferentes e, em razão disso, nossas propriedades físicas se comportam diferentemente.
Podemos pegar um cubo de gelo e sentir seu peso; mas não podemos fazer a mesma coisa com ele, se já houver saído do estado sólido e estiver no estado gasoso. Continua sendo a mesma substância, composta das mesmas moléculas e dos mesmos átomos mas, por apresentar uma nova configuração física, agora mais dispersa, onde suas moléculas se distanciaram consideravelmente, umas das outras, já não podemos mais tocá-la ou vê-la, embora sabendo que continua existindo. Respiramos o ar, podemos senti-lo e, no entanto, não podemos vê-lo. Sentimos a brisa no rosto e, por isso, sabemos que existe e falamos sobre ela; mas não podemos tocá-la.
Analogamente podemos até sentir a presença de espíritos mas, a menos que estejamos em condições energéticas, magnéticas e vibracionais suficientemente adequadas, não os podemos ver ou ouvir. Os médiuns ou, sensitivos, como também são identificados, são pessoas dotadas de sensibilidade mais apurada, em relação à maioria, o que os torna capazes de sentir, ver e ouvir espíritos com maior facilidade.
Embora a mediunidade seja um dom comum a todas as pessoas, nem todas elas têm suas faculdades mediúnicas suficientemente treinadas para os inter-relacionamentos com o plano invisível ou plano Astral, como é definido entre nós o plano comum aos espíritos.
Há inúmeras pessoas dotadas de sensibilidade além da média, capazes de sentir, ver e ouvir espíritos, mas que, em razão de crenças ou convicções religiosas, mesmo fazendo uso de tais faculdades, negam sua existência. É o caso de padres, freiras, pastores e líderes religiosos que operam curas magnéticas e mediúnicas, que fazem imposição de mãos e obtêm resultados extraordinários sobre a saúde e o equilíbrio mental e físico de pessoas, sem saber que ao agirem assim estão apenas exercendo – em sua plenitude – os seus dotes mediúnicos. Então, pode-se dizer que ser médium é dispor de sensibilidade física e vibracional, que permita “mediar” ou servir de “meio” para comunicações entre os planos físico e espiritual. Todos podemos fazer isso com maior ou menor facilidade, embora nem todos o façamos conscientemente.
É comum ver-se, em igrejas e templos de todos os credos, procedimentos admiráveis de cura e desobsessão que em muitos casos superam, grandemente, procedimentos similares operados em centros e casas espíritas. O que demonstra, de forma inquestionável, que todos temos a capacidade de canalizar energias Divinas para restabelecer a saúde mental e espiritual de nossos semelhantes.
Há que se ter todo o cuidado possível, entretanto, pra que tais canalizações tenham origem nos Planos Divinos e não nas trevas, como muito se vê, por aí. Donde se conclui da importância do estudo das coisas do Evangelho e da Espiritualidade, para que se assegure a boa origem das energias disseminadas durante tais práticas. “Não acredite em todos os espíritos; primeiro se certifique de que o espírito vem de Deus”.
Mas também não se deve, por conta disso, pensar que todos os espíritos não vêm de Deus. Até porque, Deus é o Grande Espírito Criador de todos os mundos e foi ele quem permitiu ao espírito humano existir, conhecer e evoluir. O que é fundamental, é que não haja aceitações ou críticas a coisas desconhecidas. Aceitar ou combater – sem questionamentos, sem um mínimo de estudo e sem nenhum conhecimento - o até então ignorado é, no mínimo, um ato de imaturidade espiritual. Seremos tão mais convincentes nas posições que adotarmos em relação às coisas que nos cercam, quanto mais conhecedores delas pudermos ser.
Sobrenatural, portanto, não é uma visão, uma premonição ou um contato com seres de outras dimensões da existência e nem a capacidade que tenhamos de canalizar mensagens e curas espirituais, mas a incredulidade leviana e a irresponsabilidade de quem apoia ou combate coisas sobre as quais nada sabe ou conhece.
O mais sensato em casos de medo é buscar conhecer um pouco mais sobre o que causa tal sentimento. É próprio da ignorância sobre as coisas da Natureza, o poder de criar monstros, cenários e cenas formidáveis, que além de arrepios também causam pânico diante da ideia de seguir em frente. E porque nunca se dispõe à busca das causas do seu pavor, o medroso jamais fica sabendo que, na maioria das vezes, a apenas alguns poucos passos além do local de sua “paúra” está a razão de tudo e o fim definitivo do seu suplício.
Tenho tido a oportunidade de relatar sobre um amigo que, levado pelas circunstâncias, viu-se na contingência de dormir, sozinho, em um velho paiol, na roça de milho que sua família possuía no interior do Paraná. Com muito medo, manteve o fogo de chão aceso durante toda a noite. Lá pelas tantas da madrugada ouviu um “arranhar” na velha janela de madeira. O cabelo arrepiou e ele conta que se imaginou como um rotweiler feroz, durante uma operação de ataque: o cabelo da nuca completamente em pé!
Imaginando um monstro assombroso arranhando a janela pelo lado de fora, disse que teve ímpetos de sair correndo pela porta dos fundos do rancho mas, de pronto desistiu, pensando que seria alcançado imediatamente pelo fantasma – ou fosse lá o que fosse que arranhava a janela e lhe metia tanto medo – e, quase petrificado, ficou sem saber o que fazer.
De repente, imaginando-se irremediavelmente perdido, juntou todas as forças que lhe restavam e, tomando de um lampião de querosene que mantinha aceso ao lado da cama, abriu a porta disposto a enfrentar a assombração.
Levou o lampião na direção de onde vinha o “arranhar” e, pra seu espanto e surpresa, o “monstro pavoroso” estava lá, arranhando, desesperadamente, a velha janela, querendo entrar a qualquer custo.
Era uma pobre mariposa, dessas que as pessoas do interior chamam de bruxas que, atraída pelas luzes do lampião e do fogo de chão projetadas pelas frestas da janela, debatia-se, na tentativa de chegar até lá.
Era o fim do medo e a certeza de que nem tudo é o que parece, nada é sobrenatural e, acreditar nas fantasias da ignorância e da imaginação pode ser uma péssima ideia.
Portanto, se de um lado é tolice temer os espíritos que estão por todos os lugares, acreditemos ou não, de outro lado é imprudência desconsiderar a possibilidade de sermos atingidos pelas ações negativas daqueles que - dentre eles - insistem na prática do mal, caso não tenhamos a sensatez de conhecer como agem, pra podermos nos proteger.
A oração é o grande escudo, claro, mas um padrão mental puro, seguro e esclarecido, em situações extremas... faz a diferença.
Jesus, Mestre e Mensageiro, nos aconselha ao empenho permanente da quebra dos grilhões da ignorância sobre todas as coisas. Não foi por outra razão que João registrou Sua máxima: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”!
Acreditar que somos espíritos de Deus é o que nos faz seguir adiante e perseverar no bem; quem não se vê como parte do Espírito de Deus, demora além do que deveria para encontrar o caminho da Luz. Em sua Primeira Epístola aos Coríntios, o Apóstolo Paulo afirma, no Capítulo 15, versículo 44, que “se há um corpo material então tem que haver também um corpo espiritual”. Isso já seria bastante pra que as opiniões dissonantes em relação à vida do espírito, ainda tida por muitos como uma coisa “sobrenatural”, deixassem de existir.
Até porque, o que há é o Espírito. É ele quem cavalga na garupa do tempo em busca da perfeição, não importando quanto demore a viagem. O corpo físico perece e, pelas mãos do que chamamos morte, se decompõe e se reintegra à Natureza. O Espírito, não. Por ser Criado à imagem e semelhança de Deus, é eterno e não se desfaz. Está exatamente aí a ingenuidade de quem crê que em apenas setenta ou oitenta anos de uma única vida sobre a Terra o Espírito seja capaz de alcançar méritos que o qualifiquem como anjo ou, no outro extremo, de cometer tantos erros que seja merecedor irrevogável da condenação eterna. Decididamente, não é dessa maneira que Deus age com seus filhos a quem jamais nega uma nova oportunidade.
Mas há o tempo de plantar e há o tempo de colher e há o tempo de aprender e há o tempo de crescer. Estamos todos em marcha evolutiva e dia virá em que, sobre o Planeta Terra toda a ignorância a respeito da vida será apenas parte da história humana.
Os tempos são chegados!
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Comentários
O sublime peregrino, Jesus de Nazareth afirmou que tudo o que Ele fazia, nós poderemos também fazer muito mais, ou seja, Ele deixou bem claro que fazia o que chamavam de prodígios e milagres porque sabia o que estava fazendo, tinha o conhecimento de causas e efeitos e como processa-los.O mesmo mestre também disse que não tinha vindo a terra para derrubar a Lei e sim para confirma-la, afirmação que pode ser exemplo de muitos casos, inclusive este que trata do chamado sobrenatural. Jesus não infringindo a Lei Maior e sim confirmando-a, nos mostra que todos nós estamos sujeitos a essa Lei, cabendo a nós vencermos a nós mesmos para termos acesso aos mecanismos da Lei que por hora chamamos de sobrenatural. David que apesar de seguidor do blog, por algum problema tecnico e não sobrenatural,posto esse pequeno comentário como anônimo