A Escolha, as Sementes e a Porta
22.12.2010
Arquimedes Estrázulas Pires
Estive lendo um texto do Frei Betto[1], sobre o “esvaziamento” que a modernidade promove na vida das pessoas. Ele intitulou esse artigo de “Análise Socrática dos Tempos Atuais”. Refere-se ao que dizia Sócrates[2], o grande filósofo e pensador da velha Grécia, quando lhe perguntavam o que fazia – vez em quando - diante das lojas da bela Atenas, quando por elas passava: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"
Nem lá, naqueles idos tempos, nem cá, nos tempos de agora, as pessoas preocupavam-se – ou preocupam-se - com o que verdadeiramente tem importância na vida: A Vida!
A vida vem da Única Fonte geradora do Universo, a que nos acostumamos identificar como Criador de Todos os Mundos e a chamar de... DEUS, essa Inteligência Suprema, que tudo criou para servir de instrumentos de ascensão ao espírito humano, esse ser que insiste em se demorar na estrada e atrasar a marcha.
Ao fazê-lo dessa forma, não só perde tempo com coisas que não lhe engrandecem, mas também acaba derramando pelo caminho o mínimo da bagagem pouca, até que... vazio, nem sempre tem tempo de perceber – em tempo - a perda, arrepender-se e recomeçar.
As banalidades, os prazeres fugidios, as futilidades, o despudor, as portas largas e a despreocupação com a própria existência, têm contribuído para que grandes parcelas da humanidade se transformem, a cada novo dia, em produto de consumo para forças trevosas que vampirizam energias vitais mal utilizadas pelo ser criado. Uma irresponsabilidade que demandará reparo irrevogável e, certamente, severo.
Quando o Apóstolo Paulo diz que “todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm“ [I Coríntios 10:23], está dizendo que é preciso saber usar o livre-arbítrio, essa liberdade que as pessoas têm, de fazer o que bem entenderem, desde que não prejudiquem a si mesmas e ao próximo [I Coríntios 10:32]; está dizendo que temos liberdade para agir como preferirmos, mas que nem tudo será tolerado pelo Senhor da Vida, porque devemos celebrá-la e não tisná-la por nossa incúria.
A tecnologia, aliada à indústria da diversão, nem sempre tem proporcionado outra coisa que não a agressão e o prejuízo à formação intelectual, moral e espiritual das pessoas que não têm acesso ao conhecimento sadio. Abalar – propositadamente - a fé de quem já a tem em pouca quantidade, é abusar da verdade contida nas palavras do Mestre: “a aquele que muito tem, muito mais será dado. E ao que tem pouco, até o pouco que tem lhe será tirado”. [Mt: 13,12] Paradoxal, mas absolutamente verdadeiro, como toda a Palavra do Cristo!
A quem tem muita fé, muita saúde, muita razão, muita vida, muito amor pra dar, muito entendimento e muita capacidade de compreender, sempre mais lhe haverá de ser acrescido ao que já tem, porque é na boa terra que as boas sementes germinam com facilidade. [Mc 4: 8]
Pobre do pobre em espírito, no entanto, que com um mínimo de fé ou de qualquer dos ingredientes acima, fica extremamente vulnerável e, para perder o pouco que tem, não custa absolutamente nada. É sempre preza fácil dos acenos marotos da propaganda e da leviandade, dos “falsos profetas” e dos “vendilhões do templo”.
Sempre haverá tempo e oportunidade, no entanto, para abrir os olhos e os ouvidos e então poder, com clareza, ver e ouvir [Mt: 13;13].
A humanidade ainda acabará desistindo da produção de coisas de maus propósitos e de mau uso, porque terá compreendido que daquilo que plantar sempre colherá. Mas antes disso é preciso que mate em si mesma a semente velha, pra que a nova possa nascer e melhorar o mundo. Do sentimento bom, se o semeador for cuidadoso, é que nascerá o homem novo - aberto e sensível aos ensinamentos do Cristo - que tornará melhor o mundo à sua volta. [I Cor. 15:36]
Quem se ocupa do plantio da boa semente certamente colherá bons frutos que, bem aproveitados, nutrirão o Espírito de Deus que está em cada um de nós.
Sabendo o que deseja colher e escolhendo com bons critérios as sementes que plantará, ainda que para chegar à Seara precise arrastar-se pela porta estreita [Mateus 7: 13 e 14], verá que além dela há um horizonte novo e iluminado, no qual reconhecerá, com facilidade, o Reino de Deus.
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