Com os meus botões




Com os meus botões
20.08.2014

[Arquimedes Estrázulas Pires]
           
          Meus feitos e meus rastros testemunham minha passagem pelas trilhas, veredas e vias por onde tenho andado, e me identificam para aqueles que me veem passar. Essas marcas que vou deixando por aí falam mais de mim do que qualquer palavra que nesse intento seja dita.

            Há próceres, na história do mundo, líderes de multidões e povos que - não obstante o fato - nem foram e nem são unanimidade entre os do seu tempo. Isso acontece no lado do bem, e no outro lado. Foi o jeito que a Inteligência Cósmica encontrou pra nos permitir ficar onde nos sentimos melhor. É natural que pessoas de condutas diferentes possam ficar onde se sintam bem e tenham afinidades. Estou muito bem, do lado do bem.

            As minhas convicções políticas, filosóficas e religiosas dizem aos meus ouvidos que ainda estou muito longe de onde quero ir. Mas que apesar dos tropeços, das adversidades e dos adversários, o caminho é este. Não se chega a lugar algum, sem os desafios da estrada. Mas se sabemos quem somos, mesmo com eles fica bem mais fácil andar por aí.

            Aos carneiros não fica bem andar com lobos. E às pessoas de bem não se aconselha parcerias com quem foge à Luz. Quem escolhe atalhos e caminhos sombrios não pode se queixar da falta de sol. Tudo é uma questão de escolha e todas as circunstâncias decorrem de como usamos a nossa capacidade de arbitrar decisões e atitudes. Somos totalmente livres para qualquer coisa que nos ocorra pensar, sentir, dizer, fazer ou ser. E totalmente responsáveis por tudo o que daí resultar!

            Assim como não há unanimidade quanto às opiniões que tenhamos em relação aos demais, também não há quanto às que os demais têm ou venham a ter em relação a cada um de nós. Somos individualidades universais e isso nos faz naturalmente diferentes de todos; mesmo os mais chegados. É da natureza humana que haja sintonia e afinidade entre nós e as pessoas que cruzem a nossa estrada ou optem por caminhar por ela. Da mesma forma, o divergir e o dessintonizar de outras tantas em situações semelhantes.

            Por indiferença aos diferentes níveis de compreensão do ser, há quem se considere - equivocadamente - avesso a todos os que discordam de atitudes, decisões ou comportamentos que adote. O que é uma pena, já que é da observação e da avaliação de atitudes, decisões e comportamentos, que nos transformamos, gradativamente, em seres cada dia melhores. Não há como evoluir sem observar. O exemplo é fundamental para o êxito de cada experiência; porque nos permite colimar com razoável precisão os resultados a obter.

            Muitas vezes a falta de entendimento é capaz de equívocos que frustram intenções elogiáveis e até promovem a ruptura de elos que de outro modo poderiam ser fundamentais nas relações entre pessoas. Tudo porque os bons costumes se banalizam a olhos vistos e a modernidade, em uso desmedido e exacerbado, acaba isolando pessoas de todas as idades, mesmo quando vivendo em condições familiares ou de grupos. O interesse comum dá lugar ao egocentrismo, as atenções cedem espaço ao alheamento de situações, as pessoas se amesquinham e a sociedade humana empobrece em sentimentos, a cada novo dia.

Em reuniões e festas diversas já vi pessoas sentadas lado a lado, cada um com seu “smart fone”, trocando mensagens com terceiros e deixando de conversar com quem está ao seu lado. Mesmo se expondo a critérios de avaliação que as mostram como deseducadas.

Já vi vídeos, na internet, mostrando crianças com pouco mais de dois anos de idade, dançando danças sensuais, em atitudes sensuais, gesticulando sensualmente e representando - de forma até marota - atitudes que na idade adulta são sempre reprováveis. E os pais aplaudindo, rindo e achando “umas gracinhas”, os seus filhos em tal situação. Quando essas crianças deixam de ser crianças e enveredam por descaminhos de toda sorte, os pais que riram com elas, quando infantes, gemem e rangem os dentes no desespero da perda moral, dos filhos que estimularam a coisas assim, quando deveriam ter definido padrões de comportamento e disciplina que os conduzissem abalizada e admiravelmente, pela vida.

            Também já vi pais deixarem seus filhos sob cuidados de pessoas sempre diferentes, em cada tempo, até que cheguem à idade adolescente, quando já não é mais possível desfazer deformidades emocionais, morais e de conduta. Quando uma criança recebe informações diferentes, de pessoas sempre diferentes, perde a oportunidade de construir a própria personalidade com base em orientações costumeiramente adequadas e dentro de padrões socialmente aceitáveis como corretos, educados, justos e bons.

            Lamento, sempre que me deparo com situações familiares – e até públicas – onde crianças e pré-adolescentes usam palavreado chulo, desajeitado e grosseiro, para se comunicar. Jovens que colocam o palavrão como ênfase de tudo o que desejam informar ou afirmar. É deselegante, desnecessário, antipático e de péssimo gosto. A crítica – mesmo silenciosa –nunca é ao procedimento em si ou ao seu agente; criança ou jovem. Sempre recai sobre os pais. Pra todos os efeitos são eles os deseducados no comportamento diário e os irresponsáveis na criação dos filhos.

            Não somos pais por acaso! Os filhos fazem parte da nossa pauta de tarefas e obrigações que devem ser cumpridas existência afora. Construir as suas personalidades é tarefa que nos cabe por inteiro. Um dia teremos que responder pelos resultados disso. Sempre foi assim e sempre será; ou não haveria nenhuma necessidade de pais e mães, até que atingíssemos a idade adulta. Somos dependentes dos mais velhos até que tenhamos aprendido a nos conduzir adequadamente pela vida. Somos seres hominais; perceba, portanto, que já não somos simples animais. Temos livre arbítrio e somos movidos pelo sentimento e pela razão; não mais pelo instinto ou pelo impulso, como eles. Seguramente seremos responsabilizados pelo sucesso ou pelo fracasso dos filhos que criamos.

            Aos que ignoram quaisquer diferenças entre o bem e o mal, sempre haverá indulgência, porque a ignorância não deixa de ser um atenuante na responsabilização sobre alguns feitos. Mas nunca a quem sabe o que faz. Quando o Espiritismo diz que “somos herdeiros de nós mesmos”, está dizendo exatamente que, ainda que passem séculos depois de qualquer coisa má, que conscientemente tenhamos praticado, o resgate continuará sendo tarefa da nossa responsabilidade.

Em relação à educação, à informação e à construção da personalidade e dotes morais dos filhos, até a adolescência, essa máxima é especial e absolutamente contundente. Que tristeza maior, para os pais de filhos mal orientados e mal educados por eles, do que vê-los padecendo – quando adultos - sob imposições da lei ou da sociedade, em razão de desvios de comportamento? O sofrimento é a herança que recebem de si mesmos, decorrente da despreocupação que tiveram em relação à educação moral que deveriam ter dado aos filhos enquanto estes ainda não estavam de plena posse do seu livre arbítrio.

Quem não tem, entretanto, não pode compartilhar ou recomendar. Pais que não tiveram uma estrutura familiar que os formasse adequadamente para a vida, não terão de onde tirar bons princípios para repartir com seus filhos. Não podem ser condenados em razão disso; mas devem ser alvo, sempre, da nossa indulgência. São mais vítimas do descaso de governos e governantes que não investem na educação e na construção moral da sociedade, do que autores de distorcido e prejudicial comportamento social.

O termo “cidadania” confere às pessoas os direitos e os deveres que as habilitam a viver adequadamente em sociedade. O termo “respeito”, a seu turno, é definição da virtude que habilita o Espírito humano à evolução permanente, que lhe é recomendada. Sem avocar para si as responsabilidades e as consequências passíveis de emanar de ações de terceiros, respeitar o direito que esses terceiros têm, de agirem segundo seus princípios de moral e ética, é atitude recomendada a todos. Quando nos envolvemos com problemas que não nos dizem respeito, não fazemos mais do que legitimá-los como nossos. E então passamos a ser coautores dos efeitos que possam causar.

O Espiritismo aconselha o “não envolvimento” em situações ou problemas alheios, se não formos solicitados a isso; e a não deixar de ajudar como pudermos, caso o sejamos. Lições que precisam ser vivenciadas, pra que expressem sua contribuição com o aprendizado que buscamos.

A teoria de que “o homem é fruto do meio”, é apenas relativa. Se quiser, ele pode modificar o meio em que vive, produzindo situações e exemplos que motivem seus convivas a mudarem o próprio padrão comportamental e de ser.
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