Desapegue-se
Desapegue-se
31.03.2014
Arquimedes Estrázulas Pires
Por que eu ainda não sei ser
feliz?
Porque o espírito humano ainda
não está habituado ao fato de que nem sempre é vitorioso sobre todas as coisas.
Não somos infalíveis e nem temos o dom do conhecimento antecipado da verdade
sobre os efeitos que causamos com as decisões que tomamos, com as atitudes que
adotamos e com as coisas que fazemos.
O conhecer a si mesmo é que leva
as pessoas a sentirem a brisa da liberdade em suas faces enquanto caminham pela
existência. Quem se conhece, se desapega. Quem se apega fica prisioneiro de
sentimentos menores, que escravizam, inspiram coisas impossíveis e trazem a
infelicidade que nasce da insatisfação que vem do não ganhar sempre. Com muita
propriedade e muita sabedoria os budistas dizem que “todo o apego gera um
sofrimento”. E ninguém é capaz de ser feliz no sofrimento.
Outro fator importante,
diretamente ligado à felicidade ou falta dela, é o mau hábito de jogar ao vento
todos os pensamentos, os projetos de vida, os sentimentos e as decisões que
tomamos. Jogar ao vento aqui tem o sentido de abrir ao conhecimento de todos, o
que pensamos, pretendemos ou nos determinamos a praticar. Com o tempo e as
experiências pessoais vamos compreendendo que há coisas que ficam melhor
protegidas se ficarem guardadas em nosso coração.
É isto o que Platão quer dizer
quando afirma que “os inteligentes aprendem com os próprios erros; os sábios
aprendem com os erros dos outros”. Agradeço à Inteligência Criadora do Universo
as experiências que têm me permitido compreender o pensamento do filósofo.
Ninguém abre o coração em troca
de críticas negativas ou de aborrecimentos que daí resultem. Mas é certo que
todos, indistintamente, abrimos o coração quando desejamos ser compreendidos por
alguém especial ou pelos demais. O Espírito humano não se sente feliz apenas
quando é solidário; também diante da solidariedade de outrem sente reconhecidos
os seus esforços em ser e em agir melhor do que até aí; e isto pode ser motivo
de felicidade.
Ser feliz é um estado de
espírito e não se chega a ele por meio de fórmulas prontas. Ser feliz depende,
fundamentalmente, da aceitação de si mesmo, da compreensão dos fatos que se
sucedem diariamente durante a existência e da percepção clara de que todos
estamos envolvidos pelas energias produzidas por toda a humanidade. Não estamos
sozinhos no Universo e não estamos sozinhos aqui onde vivemos no momento.
De posse desse estado de
consciência – e somente assim - é que podemos filtrar as energias que devemos
ou não, acessar. E então – com liberdade – é possível usufruir de cada situação
que a vida nos enseje e que vibre na mesma frequência dos nossos anseios e dos
nossos sonhos. Porque há o velho conceito de que “só serei feliz se conseguir
chegar lá”. E esse “chegar lá” nem sempre está relacionado à razão, mas a um
padrão mental criado por condicionamento emocional, psicológico e até social.
A menina moça que cresceu
ouvindo a mãe lhe dizer que “quando casar verá que todos os homens são iguais”,
muito provavelmente só se sentirá “feliz” o dia que estiver divorciada. O menino que cresceu ouvindo o pai dizer que
“a vida é uma guerra”, certamente sentirá o desânimo todas as manhãs ao sair da
cama para enfrentar a “batalha” do dia. E não será feliz!
Quem acredita mais nos outros do
que em si mesmo haverá de ser sempre dependente de opiniões alheias pra
desfrutar os melhores momentos que a vida é capaz de lhe proporcionar. E só
será “feliz” se alguém lhe disser que é.
Em resumo de tudo, somos os
artífices exclusivos da própria felicidade. Ninguém poderá construir em nós os
sentimentos que são de nossa responsabilidade e, por consequência, só seremos
felizes se e quando nos decidirmos a viver em função de coisas que nos
satisfazem o Espírito.
Compor uma obra de arte,
escrever um livro ou uma poesia singela, fazer um gesto de amor ao próximo,
abraçar uma pessoa por qualquer razão infeliz, sorrir para quem está triste,
dizer olá a quem está sozinho nos abandonos circunstanciais da vida, afagar um
animal, se mexer no sentido de demonstrar que é feliz, nos dá satisfação e esta
nos traz felicidade.
É mais uma das mil maneiras de
compreender que “a cada um será dado segundo suas próprias obras”, como quer
Jesus Cristo.
Não ganhar sempre não é a mesma
coisa do que ser infeliz... sempre, mas, se desapegar de tudo e tratar as
conquistas, as vitórias e as derrotas como circunstâncias normais à vida, pode
ser um caminho para os momentos de felicidade.
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