Voltando o olhar para as aves dos céus e
os lírios do campo

Juliana Demarchi
Como Espíritos imortais que somos, vivemos uma vida entre mundos, na qual as palavras do Cristo são lâmpada para os pés e luz para o caminho.
Já se foram mais de dois mil anos que o Espírito de maior envergadura, o governador de nosso planeta – Jesus Cristo – encarnou entre nós, e mesmo depois de tanto tempo, Suas palavras não foram esquecidas. Simbolizando o primeiro cavaleiro citado no livro do Apocalipse, o Seu Evangelho percorre o mundo, tendo saído “vencendo e para vencer”, e mais do que isto, atravessa nossas almas a cada vida que vivemos, conquistando aos poucos o terreno árido de nossos corações.
            Seus ensinamentos não caíram no esquecimento porque, de uma maneira extraordinária e única, Ele dominava como ninguém a arte da retórica, e muito, muito mais do que simplesmente manejar bem as palavras, nos deu o exemplo de amor em tudo o que viveu. Ao falar com os discípulos sobre Sua partida, eles perguntam desconsolados, “para onde iremos Senhor, se só Tu tens as palavras de vida?”. Não somos diferentes. Para onde iremos sem as palavras Dele? Quantas vezes sentamos à beira do caminho e, estacionados no tempo, olhamos somente para nosso mundo, vislumbrando limitações e fracassos inerentes à condição humana. Damos asas às ilusões e elas nos arrastam para longe dos objetivos que compõem nossa programação reencarnatória, pelo simples fato de sermos cegos.
            Acredito que um dos nossos maiores problemas seja nossa visão prejudicada pela miopia espiritual da qual padecemos, o que se agrava ainda mais quando se refere a grupos, enquadrando-se no que Jesus alertou, “um cego guiando a outro cego, rumo à cova”. Em outro trecho do Evangelho, Ele diz que “os olhos são a candeia do corpo”. E viva a ciência! Pois ao longo do tempo vem desvendando grandes segredos do micro e do macrocosmo em que estamos submersos, e, assim, podemos usar o conhecimento para compreender um pouco mais sobre o que nos falava o Senhor. O olho humano é composto pelas mesmas células da glândula pineal, que é tida pelos indianos como o “terceiro olho” e nós espíritas a chamamos de a “glândula da mediunidade”.
            Com a pineal somos o equivalente a sapos na beira da lagoa, com os pés atolados na lama, porém ainda capazes de contemplar o manto de estrelas. Através dela, nossas experiências transcendem a limitação da matéria e podemos receber as ondas vibracionais do plano espiritual, traduzindo-as nas mais variadas formas de fenômenos, entre eles clarividência, clariaudiência, psicofonia e muitas outras. O processo todo se dá com a entrada das ondas luminosas no cérebro através dos olhos – a candeia que se acende estimulando o funcionamento da pineal. A glândula possui em seu interior cristais minúsculos de apatita, capazes de captar estas ondas num mecanismo semelhante aos aparelhos celulares. Portanto, quando Jesus diz que os olhos são uma espécie de lâmpada, penso eu, que esta descrição fisiológica se encaixa perfeitamente aqui.
Paralelo às palavras do Mestre galileu, gostaria de incluir o que foi dito dentro da mesma linha de raciocínio, pelo outro mestre, desta feita, o renascentista italiano, Leonardo da Vinci, “os olhos são as janelas da alma e o espelho do mundo”. Quando nosso coração está inundado de emoção, são eles que liberam as torrentes de lágrimas, como se nossas comportas tivessem sido superadas e estivéssemos vazando os sentimentos. Quando afivelamos as máscaras da mentira, os olhos destoam porque são testemunhas fiéis e incorruptíveis do que vai em nossa alma. E como diria o poeta – “um olhar fala mais que mil palavras”.
 Como Espíritos imortais vivendo em processo encarnado, passamos por experiências de fronteira, ou seja, vivemos entre a tênue linha que separa as coisas físicas das do Espírito, e nesta fantástica divisa a fé faz toda a diferença, pois é a certeza das coisas que se esperam e a convicção do que ainda não se vê. Cada dia mais admiro e agradeço a Deus por ter acesso à doutrina espírita, em especial, ao trabalho ímpar realizado pelo professor Rivail, que, em sua humildade e abnegação, serviu de instrumento aos Espíritos e nos legou um compêndio de sabedoria e luz.
            Estamos caminhando para dois séculos de sua obra e não encontramos sinais de defasagem, pelo contrário, a própria ciência corrobora com suas descobertas, a realidade espírita. A recente confirmação do Bóson de Higgs, ou Partícula de Deus, evoca o que Kardec tratou como Fluido Cósmico Universal, a matéria prima que permeia a tudo e a todos no universo. Segundo os cientistas, esta seria uma partícula formadora de um campo de força surgido logo após o Big Bang. Na Gênese, o próprio Kardec frisou, “o Espiritismo e a ciência caminharão lado a lado, mas onde a ciência se detiver, ele avançará”. Este avanço se dá porque a visão, que é fundamental, não se fixa apenas em aspectos que podem ser mensurados, catalogados ou experimentados dentro de quatro paredes de um laboratório, ela se expande em horizontes que estão muito além, não se limitando, mas ao mesmo tempo não partilhando do fantasioso.
Portanto, que possamos aceitar o convite feito por Jesus para voltarmos nosso olhar para as aves dos céus e os lírios do campo, ou seja, buscar a verdadeira sabedoria nos seres mais simples da escala evolutiva, onde o princípio espiritual estagia com a força de sua plenitude e a graça de sua leveza. Segundo Léon Denis, o princípio espiritual “agita-se no vegetal e sonha no animal”, mas ao chegarmos ao patamar da humanidade podemos gradativamente esquecer a agitação dos sentimentos, imersos numa rotina autômata. Deixar para trás a beleza dos sonhos, em troca de uma realidade cruel e sem sentido. Animais e flores não estão aqui tão-somente para servir ou ornamentar, mas são capazes de oferecer constantes lições de aprendizado a cada um de nós.
            É inexorável o fato de subirmos os degraus da evolução, mas não podemos deixar para trás os valores arduamente aquinhoados, ou trocarmos os verdadeiros tesouros da alma pelo pó da estrada, na vã justificativa de termos nos tornado complexos demais. Enquanto o sentido da vida pode se esgueirar na amizade desinteressada de um cão ou na singeleza de uma flor, a pior de todas as cegueiras pode nos impedir de ver o que de fato é real em todos os planos, que é o amor.
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