Oportunidade Necessária


Oportunidade Necessária
26.03.2011
Arquimedes Estrázulas Pires

            Poucas perdas são maiores do que a da oportunidade necessária, aquela que permitiria – quem sabe – conseguir um bom trabalho, conhecer uma pessoa interessante, participar de alguma ação positiva, fazer uma boa ação, se aproximar de Deus, etc.
            Dentre as oportunidades necessárias podemos destacar - sem medo de equívocos – aquela de que carecem muitas pessoas para desenterrar velhas emoções e remoçar a vida, restaurar sentimentos, relações, prazeres, alegrias, cotidiano e... sonhos.
            Não é raro ver-se marido e mulher – milhares deles! – esquecidos dos bons momentos em que desejaram ser um só, tratando-se mutuamente se não com desdém, com uma desnecessária e forte dose de descaso e indiferença. Na melhor hipótese dessa ocorrência, um puxando para o lado da paz e do bem viver e, na outra ponta da corda, o cônjuge puxando em sentido contrário; quando não os dois puxando para lados opostos; o que é ainda pior.
            É necessário lembrar que o descaso e a indiferença geram insatisfações, inobservância emocional, desleixo, descortesia, mágoas e desrespeito. O resultado tanto é visível nos olhos de quem chora silenciosamente, quanto no rosto marcado pela tristeza e pelo sentimento de “como era bom aquele tempo!”.
            O problema é que quanto mais velha fica a situação sem que haja tempo de querer e ter coragem, sem que haja vontade de olhar e ver, sem que haja a mínima determinação de dar mais uma chance à própria felicidade, mais difícil fica o encontro de motivos, razões e ensejos pra retomar o caminho e perceber que ainda é possível a paz!
            A agressividade - no olhar ou no jeitão das palavras - não precisa existir na vida de ninguém; nem no trato com pessoas eventuais e muito menos na vida dos casais, que a transferem para os filhos, que a transferem para os amigos, que a transferem para a vida. Assim se forma a grande cadeia de infelizes que desfilam mágoas, aborrecimento e azedume pelas veredas da existência.
Mas a vida, que não tem nenhuma razão pra parar - e efetivamente não para - vai escorregando vagarosa e teimosamente pelas encostas do tempo, enquanto os filhotes – quando os há – crescem, emplumam, criam penas nas asas e mais dia menos dia... voam. É inevitável; a vida cobra isso deles! Faz parte do ser e do existir.
 Sobra, na paisagem desbotada da estrada percorrida com a bagagem cheia de mágoas, o velho e desgastado casal quase só, vivendo a experiência triste e melancólica de manter aparências, fazer de conta, tolerar-se, suportar-se, arranhar-se, anular-se, silenciar, azedar e envelhecer calando, engolindo sapos, perdendo o viço, o brilho e a vontade de viver. Uma existência lenta, desmotivada e irremediavelmente... infeliz!
            Mas o que é isso, afinal de contas?
            Nada além da falta de oportunidade pra conhecer as verdades que Deus Tem colocado à disposição da humanidade pra que ela viva melhor e mais feliz.
            Nada acontece por acaso e não é por acaso que duas pessoas se encontram e optam por uma vida em comum. Naturalmente – imagino - todos concordam que ninguém faz qualquer opção de vida com o objetivo de ser infeliz.
            Os espíritos que reencarnam são colocados em rotas estratégicas, pela Espiritualidade Maior, justamente pra que seus caminhos se cruzem em algum ponto de cada viagem, a tempo de reconhecerem-se e iniciarem o necessário processo de resgate de faltas, o esmerilhamento de velhas arestas inservíveis, a superação de sentimentos inúteis e o aprimoramento do sentido de amor universal, com o objetivo divino de aprenderem a viver melhor e de aperfeiçoarem suas capacidades de ser gente.
            Esquecida da Lei de Causa e Efeito, ou dela sabendo nada, muita gente desfila pelas estradas do tempo distribuindo sementes ardidas e as enfiando de qualquer jeito na terra onde pisam, como se a colheita do que produzirão não fosse de sua única e exclusiva responsabilidade. Todos colheremos daquilo que houvermos plantado!
            É linda a vista de apaixonados casais! Triste, no entanto, ver-se essas mesmas pessoas fermentadas e azedas depois de apenas alguns anos de convivência! Às vezes nem tanto tempo assim!
            Uma saudosa amiga me dizia, há alguns poucos 40 anos, que “quando a calcinha e a cueca se misturam no mesmo tanque o encanto acaba e as coisas se modificam”; uma grande verdade!
Mas por que o encanto tem que acabar? E se as coisas se modificam mesmo, com o tempo, como tudo na vida, a mudança que sofrem pode muito bem ser no sentido do melhor! Ou não?
Então por que é que essa modificação sempre se dá no pior sentido? Porque as pessoas entendem – mal! – que casando-se “adonam-se” do seu par e, de posse da propriedade, podem fazer e desfazer – dele ou dela – à vontade; esse é outro grande equívoco!
            As pessoas não se casam pra viver desarmoniosamente! Os objetivos em tese hão de ser, sempre, a “construção familiar”, o aperfeiçoamento emocional, a aquisição de conhecimentos mútuos, a busca de sentimentos nobres, a multiplicação da espécie para que haja corpos disponíveis aos espíritos reencarnantes em cada tempo e, com muita especialidade, o crescimento moral.
É patético ver-se maridos torcendo pela chegada das tardes de sábado e das manhãs de domingo, quando poderão fugir do convívio familiar para o botequim mais próximo ou para o jogo de futebol entre amigos. Na verdade boa parte deles aproveitam tais oportunidades – aqui desnecessárias – pra fugir de verdade; não do convívio familiar, mas deles próprios. Fazem isso por que não gostam de estar em casa? Não! Fogem porque não gostam de lembrar que já faz bastante tempo que não dizem às suas mulheres que as amam, como repetiam vezes e vezes nos tempos de namoro; que não lhes manifestam nenhum tipo de carinho, como quando, namorados, iam ao cinema de mãos dadas; que não tomam um café ou um chimarrão juntos, que não “curtem” os filhos, que não fazem planos para amanhã, que não andam de mãos dadas, que não trocam nenhum agrado antes de dormir e, tudo o mais que vem nessa esteira de desleixo e desencantamento.
É igualmente patético ver-se senhoras “esposas” – não gosto do adjetivo que me parece frio, distante e oportunista – “matraqueando” no salão e beleza, na feira, no supermercado, no portão de casa ou em qualquer outro lugar, estórias terríveis contra seus desavisados maridos. Também neste caso desfilam sentimentos que não tinham quando enamoradas de quem tanto queriam como “companheiros eternos” e torcem pra que os incautos mantenham-se o maior tempo possível longe dos seus olhos. Que bestialidade!
Note-se que estamos nos referindo a pessoas que um dia se olharam, sentiram aquele bem característico “frio na barriga”, enamoraram-se, fizeram planos os mais mirabolantes imagináveis, cometerem loucuras incontáveis por conta desse louco amor, casaram-se e constituíram família; “de livre e espontânea vontade”!
Isso não dá assim uma pinta de irresponsabilidade, dengo e birra? Se era pra viver em clima cinzento, azedo e em tudo inapetente, por que então gastaram milhares de dinheiros em, convites, cartório, serviço religioso, telefonemas de aviso e festas de casamento? Pra chatear os pais, iludir os amigos, agredir a sociedade que torceu por eles ou, quem sabe, pra provar a si mesmos que por pura e exclusiva incompetência estavam determinados a uma vida infeliz? Não creio nisso! Deus não criou ninguém assim tão bronco!
É evidente que há um necessário ajuste de personalidades quando duas pessoas se juntam em um novo propósito de vida e tornam-se marido e mulher; claro que há! Mas isso tem um período de maturação! As individualidades entram em turbulência, muitas vezes agitam-se, reclamam, identificam pontos de atrito, conversam, dispõem-se à aparar arestas e eliminar diferenças, acordam sobre a melhor maneira de conduzir a nova vida, o processo se consolida, a harmonia se instala, o bem-querer se estabelece e a nova família está pronta para crescer e ser feliz. É o que qualquer ser dotado de alguma inteligência seria capaz de ver em um casamento!
Mas então por que é que há tanto casamento se esvaindo em emoções geladas, em desatenções, em arranhões sentimentais desnecessários, em broncas absurdas, em desencanto e em descontentamento, em tão pouco tempo? Quantos desses casais que muitas vezes separam-se depois de apenas alguns dias ou de algumas semanas fizeram juras de amor por tempo determinado? Nenhum, claro!
Falta capricho, amor, respeito, um pouco de tudo isso e muito de saber o que querem pra suas vidas as pessoas que agem assim. Sêneca, o jovem filósofo do Império Romano, há mais ou menos dois mil anos disse que “nunca há vento favorável pra quem não sabe aonde quer ir”; e é verdade!
Além disso, só se pode dar a alguém, alguma coisa que se tenha; no coração ou na vida. Então como será possível que haja amor, carinho, respeito e determinação em encontrar um rumo na vida a dois, se nem marido e nem mulher tem, em si mesmo, qualquer desses sentimentos? É a impressão que dá!
Os reencarnacionistas sabem que nada acontece por acaso e que todos voltamos ao plano físico – e voltamos muitas vezes! - por conta de velhos acertos de contas que precisam ser feitos e de velhas lavouras, plantadas nas terras do tempo e que têm que ser colhidas um dia.
Assim sendo, não seria essa verdade uma boa razão pra que casais busquem todos os meios de se darem bem, de se adequarem ao desejo – que é natural ao espírito humano – de um dia... uma vida melhor? Se todos sabemos que “o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória”, por que não se dá logo o primeiro passo em plantar sementes que gerem paz, saúde, harmonia, amor, prosperidade, exemplos dignos e alegria? O mundo será bem melhor o dia em que a vida for vivida assim!
A mesma coisa vale para os filhos que desgostam dos pais que têm, para os pais que não conseguem se desincompatibilizar a contento, das responsabilidades assumidas ainda no Plano Maior, em relação aos filhos que um dia talvez tenham sido seus desafetos e que hoje têm contas a acertar e, portanto, voltam como filhos pra que o amor vença mais uma vez! Vale também para irmãos que não se toleram, na ignorância de que um dia machucaram-se pra valer e têm, aqui e agora, a oportunidade necessária para o reequilíbrio e para a retomada do bem-querer. E vale para companheiros de trabalho que, por razões as mais diversas, não podem olhar um para o outro.
Deus nos coloca nos lugares mais adequados para o resgate de faltas um dia cometidas, para os indispensáveis acertos de contas, para o reconhecimento da necessidade imperiosa de perdoar e ser perdoado e para a descoberta e compreensão de que, de verdade, “só pelo amor vale a vida”. Parece coisa de para-choque de caminhão; e é! Mas também vale para toda a existência e para todos os seres.
Evidentemente seria leviandade colocar a responsabilidade de todas as nossas falhas nos irmãos decaídos do plano inferior da Espiritualidade, porque o mau uso do livre-arbítrio nos leva muito mais aos descaminhos e ao plantio de inutilidades do que a influência de obsessores. No entanto, o “orai e vigiai” precisa estar constantemente ligado pra que a sintonia com a Alta Hierarquia Espiritual nos favoreça no adequado uso da razão.
Outra medida importante e indispensável que precisa ser ativada é a lembrança de agradecer, diariamente, ao nosso Anjo da Guarda pela inspiração e pela intuição que nos garantem a manutenção do rumo certo. Ele não pode e não deve tomar decisões por nós, porque seria a anulação do mérito individual que precisamos nos esforçar por merecer, mas nunca deixa de nos inspirar a melhor decisão; basta que estejamos atentos a ela. É através do Anjo da Guarda que Deus fala conosco e nos dá os melhores conselhos.
Exercitar a prática de seguir a intuição é uma das muitas maneiras de fortalecer a fé e entender os conselhos de Deus.
E o que dizer daquela mulher ou daquele marido que mesmo quando o seu par se esforça e faz de tudo um pouco pela manutenção da paz e da tranquilidade no lar, está sempre emburrado, azedo e carrancudo? Existe coisa mais aborrecida e desestimulante do que acordar pela manhã e ver, como primeira imagem do dia, uma cara azeda?
Mulheres, agradem seus maridos como o faziam nos idos tempos de namoro!
Maridos, arremedem suas mulheres nessa coisa de serem agradáveis, brincalhões, descontraídos, estimulantes, companheiros, amigos e amantes!
Quando uma mulher faz a comida para a família ou orienta sua auxiliar para que o faça e deposita nisso todas as suas energias positivas, todo o seu amor, todo o carinho disponível e toda a vontade de que fique muito boa, além de nutrir adequadamente o corpo físico de cada um, ainda fornece amor em quantidade suficiente para todos e mais o excedente que a ela retorna em forma de alegria, elogios, caras boas e gratidão. Se - ao contrário - coloca nisso o seu melhor azedume, sua ira, sua notória e costumeira má vontade, pensamentos de baixo nível ou sentimentos negativos, envenena a todos e ainda lhe sobra o troco que recebe em forma de mau humor, irritações aparentemente sem razão de ser, desrespeito, gritos, ira e tudo o mais que com isso se pareça.
Da mesma forma o marido que sai de casa para o trabalho como se estivesse saindo de um hotel e retorna ao fim do dia cheio de reclamações, xingamentos, cara feia e mau humor. Nada diferente disso, certamente, receberá dos demais membros da família. Porque cada um recebe na mesma medida do que dá.
A vida não é uma colônia de férias e tampouco um lugar onde nos seja dado o privilégio esdrúxulo e descabido de destilar nossas más qualidades em cima de quem nos acompanha ou conosco convive. É uma escola, onde todas as oportunidades necessárias nos são oferecidas para que nos tornemos espiritualmente melhores, socialmente mais doces, familiarmente mais úteis, humanamente mais lúcidos, religiosamente mais conscientes e conjugalmente – quando nos dispomos ao casamento – mais maduros, equilibrados e responsáveis.
Portanto, é a vida e não outra, a oportunidade mais necessária pra que nos tornemos, a cada novo dia, mais parecidos com o Criador. Não está escrito que fomos criados à Sua imagem e semelhança?
Sabe o que parece esse negócio de casar com mil demonstrações de amor eterno e em seguida virar o disco e adotar esse comportamento cor de cinza, sem brilho e sem graça? Parece propaganda enganosa, inspirada pelas equipes trevosas com o objetivo de transformar a vida familiar em miniaturas do inferno. É essa a aparência que você gosta de ver à tua volta, em teus dias, em tua família e em tua vida?
Ponha Deus no coração, razão e consciência no proceder e que os bons ventos da alegria, da saúde, da paz e das grandes bênçãos sejam soprados pelo Cristo de todos nós, em tua vida e na daqueles que te são caros. Renda essa homenagem a Quem criou o mundo na certeza de que Fazia uma grande Obra; justifique tua natureza Divina e... sorria!
Alise a testa, ponha um pouco de sal nesse tempero de todos os dias, troque o azedo pela doçura, faça da vida uma prece em forma de alegria e curta os benefícios dessa grande e necessária oportunidade que Deus te dá pra que você cresça e seja feliz.
Paz e Luz!


           
           

           

           

Comentários

neyra disse…
Adorei o texto. Realmente uma aula de convivência.
Nunca casei, por opção mesmo.
Engraçado desde criança eu sabia que não ia me casar... acho que não tenho vocação para o casamento.
Não tenho experiência própria, mas observo muito e penso que não há maturidade na maioria das relações. E muitas vezes não há e nunca houve amor relamente.
Conviver é um grande desafio, é difícil, mas é preciso.
Boa vontade e respeito para com o próximo e para consigo mesmo pode transformar esta convivência na melhor coisa da vida.

Um beijo grande, primo... saudades...
Neyra.

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