A Roupa do Espírito

A Roupa do Espírito

06/06/2017

Arquimedes Estrázulas Pires

Nem tudo é o que parece e nem eu sou quem aparento ou penso ser!
Mas então quem sou eu, afinal de contas?
“Eu sou o Espírito que me move”, diz Paulo, o Apóstolo dos incrédulos!
Mas, se eu sou o espírito que me move e se todas as pessoas também são os espíritos que as movem, quem são os corpos com os quais nos apresentamos por aí?
São as roupas que Deus nos permite vestir - em cada vida - para que a gente possa cumprir tarefas, aprender lições e realizar provas.
Os corpos que vestimos são a vestimenta de trabalho que nos permitirá realizar as coisas programadas para cada reencarnação.
Como aquelas usadas pelos bombeiros em um combate a incêndio, pelos mergulhadores em uma atividade submarina, pelos astronautas em viagem espacial, pelos vaqueiros em um show de rodeio ou num dia de marcação... Sempre adequadas para o que estamos programados a cumprir em benefício da própria evolução do espírito que nos move.
Por isso é que nem sempre nos reconhecemos, quando nos reencontramos.
E todos os dias reencontramos espíritos das nossas relações ancestrais, vestindo corpos que não nos permitem reconhecê-los, embora as energias que irradiam não deixem dúvidas sobre o tipo de sentimento que ainda nos liga.
Porque tudo é por afinidade; ou não!
É possível que em tais reencontros estejamos trajando corpos que não sejam do agrado ou da simpatia de alguns.
Volta e meia topamos com quem nem nos aperta as mãos e nem nos abraça, quem sabe por inibição ou falta de liberdade, mesmo sentindo vontade de fazê-lo.
Muitas vezes, sem saber que fomos mais do que muito próximos, em algum pedaço da existência que ficou para trás, nos comportamos como estranhos e até deixamos de nos dar as mãos e de nos ajudar. Oportunidades perdidas, que talvez ainda lamentemos, adiante.
Quando nos deparamos com uma pessoa das nossas relações, agora envelhecida, ou quem sabe vitimada por um acidente vascular cerebral, ou por um acidente qualquer, com problemas de locomoção, quem sabe com problemas de memória ou dificuldade pra dizer o que sente - porque o centro da fala está comprometido - o que fazemos?
Quando nos encontramos com um portador de deformidades congênitas, às vezes de aparência dolorosa, o que fazemos?
Quando nos vemos na circunstância de nos relacionar, de alguma forma, com alguém que não possa falar, ou que nos olhe com olhar parecendo se perder no nada, qual é a nossa reação e como nos comportamos, então?
Por que nos impressionamos tanto e tão negativamente com a roupa que vestem esses espíritos que nos parecem tão distantes da realidade que sonhamos e da perfeição que imaginamos conhecer?
Por que nos impressionamos tão pesarosamente com pessoas assim, se é possível que cada uma delas já tenha ocupado espaços importantes em nossas vidas de antanho?
Os reencontros de agora podem ser nada mais que reencontros de velhos conhecidos e muitas vezes nada mais que reencontros de pais e filhos, irmãos ou parceiros, companheiros ou cúmplices, amigos ou amantes...
Talvez de um tempo que tenha deixado marcas que precisam ser apagadas ou reavivadas agora, a bem da própria evolução de cada um de nós.
As roupas que o meu Espírito veste são quem sou agora; mas não são quem sou!
As roupas do Espírito são só uma pequena parte dos arranjos que fomos tecendo durante a viagem pelos pedaços da existência. E embora possam falar bastante, sobre quem temos sido, essas roupas nos vestem agora, mas não têm o poder de nos identificar por inteiro.
Porque o “esquecimento” de quem fomos faz parte da Justiça de Deus, pra que nos tornemos melhores do que um dia e agora possamos entrar em harmonia com aqueles com quem eventualmente tenhamos nos desentendido, por aí.
Houvesse lembranças do passado que se foi - enquanto viajamos na matéria densa - e o perdão teria muito maior dificuldade de ser, porque a tendência seria a rejeição, em lugar dele.
Os antigos egípcios chamavam de Véu de Isis, esse esquecimento que se faz forte, quando reencarnamos. O Véu de Isis, para nós, Espíritas, simboliza a teia que separa o mundo Espiritual, do mundo da Matéria.
Como um grande véu, essa teia tira a visão sobre quem fomos, sobre o que fizemos e sobre os porquês de cada coisa, com o propósito de nos tornar justos, amorosos e capazes de perdoar, agora. Porque é agora que precisamos desenhar como queremos o nosso daqui a pouco e os nossos amanhãs.
Esquecidos de circunstâncias que poderiam despertar a vaidade em nós, ou nos jogar nos mais intrigantes complexos de inferioridade, porque não sabemos quem fomos fica mais fácil buscar o que queremos ser.
Se no passado fomos milionários, mas injustos e maldosos, agora não nos conformaríamos com um nascer miserável e uma vida de penúrias.
Se fomos igualmente poderosos - ainda que não detentores de fortunas materiais, mas sem bondade - dificilmente nos comportaríamos com humildade, agora, acaso nascêssemos em família destituída de cultura e bens materiais.
A mulher assassinada por um desafeto, em outros tempos, não haveria de se conformar com recebê-lo agora como filho, caso fosse solicitada a tal gesto.
Tudo tem um único e divino objetivo: Permitir que ao final de tudo o vencedor seja identificado pelo nome de... Amor!
Amor é o nome do sentimento que caracteriza a divindade, a Inteligência Cósmica, o Grande Espírito Criador.
Amor é o nome do sentimento que nos faz associar o que há de mais digno, bom e justo, com os atributos do Senhor do Tempo e da Razão de tudo: Deus.
Então, se os corpos que vestimos são a vestimenta de trabalho que nos permite realizar as coisas programadas para cada reencarnação, e se os “companheiros de trabalho” nos parecem estranhos, a cada novo programa, abrir o coração e recebê-los com Amor Incondicional, daquele mesmo modelo deixado pelo Cristo Jesus, certamente haverá de fazer a jornada bem mais tranquila, proficiente e prazerosa do que de outra forma seria.
Não importa que roupa estamos vestindo, se com esta ou outra os objetivos de elevação espiritual pela prática do bem, do amor ao próximo e da caridade, pelo exercício da paciência, pela superação das dificuldades, pelo conhecimento adquirido, pela resignação ao enfrentar as agruras da existência e pelo amor a Deus, sobre todas as coisas, forem alcançados e nos qualificarem para seguir adiante, em busca de novos saberes e de novas descobertas sobre nós mesmos e sobre o existir.
Ao final de tudo, quando houvermos vencido todos os obstáculos, aprendido todas as lições, realizado todas as provas, adquirido todo o conhecimento, embalado o conjunto de tudo isso com um belo papel chamado humildade, seremos Anjos de Deus e quem nos conhecer então poderá dizer que somos sábios.
Já somos conscientes de que nem tudo é o que parece.
E é certo; eu não sou quem aparento ou quem penso ser e nem você o é!
Mas quem eu sou e quem você é, está a caminho da perfeição e a cada dia, dependendo do quanto nos esforcemos nesse sentido, estará mais próximo daquele ponto onde todas as circunstâncias existenciais farão todo o sentido que até aqui ainda não fazem.
A cada dia, se nos empenhamos na tarefa de nos melhorar e evoluir, descobrimos coisas em nós, que nos mostram o quanto é importante reconhecer que somos partículas de perfeição; afinal, somos pedacinhos de Deus.
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